sábado, 25 de outubro de 2014

Debout les femmes, Une vidéo que toutes les femmes du monde devraient voir !




CONFISSÕES DE UMA MULHER EM CRISE (Texto de Pamela Sobrinho para as Blogueiras Feministas)

Confissões de uma mulher em criseAcredito que muitas pessoas passem por crises existenciais em alguns momentos da vida. No geral, minha sensação é de que entro em crises quase que diariamente por ser mulher. Como não surtar quando somos cobradas diariamente para sermos Super-Mulheres? Não no bom sentido da palavra. Porque somos cobradas para sermos seres imortais, fortes e que nunca fraquejam, modeladas por uma sociedade e uma cultura de muitos anos. Quem inventou essa ideia de que a mulher veio depois do homem? Quem disse que por trás de todo homem tem uma mulher? Pergunto-me diariamente como ideias tão antigas perduram até hoje.

Lendo revistas femininas, havia um artigo com o seguinte titulo: “47 dicas para você ser uma mulher poderosa”. Sobre o que tratará esse artigo? Será sobre emprego? Será sobre como nós mulheres somos poderosas quando conciliamos casa, família, emprego e lazer? Não, não era nada disso, era mais um artigo machista e patriarcal que tenta ditar como nós mulheres devemos ser. Para ser ter uma ideia, a dica 4 é: “Encontre um cara que você queira fazer feliz todos os dias, para o resto da sua vida, e case-se com ele”. E se você não quiser se casar? Você vai deixar de ser poderosa? A dica 15 diz: “Você nunca perderá nada por ser discreta. E, se perder, ninguém vai ficar sabendo mesmo”. Isso é sério? Essas dicas me levarão onde?

Infelizmente, muitas mulheres seguem a risca essas “dicas”. Não que elas estejam erradas, mas nós, mulheres, crescemos acreditando que não somos poderosas se não estivermos nos moldes que a sociedade prega. Se você é branca, cis, loira ou morena, com cabelo liso e magra, talvez sofra menos as pressões sociais, mas essa não é a realidade de todas as mulheres. Se você for negra, por exemplo, ou é vista como uma Globeleza ou é ignorada pela sociedade. Se você é gorda, sofre outros tipos de exclusão. Se é uma trans*, o desrespeito é tão absurdo que nem como mulher você é considerada.

Alicia Keys, na música “Superwoman”, diz a seguinte frase: “Eu me levanto e continuo procurando, pelo melhor pedaço de mim, de cabeça baixa por esse peso, escrava da humanidade, eu levo isso em meus ombros, tenho que encontrar a minha força interior”.

Sim, somos escravas da sociedade. Sendo escravas, somos levadas diariamente a abandonar nossas ideias, deixar nossas vontades de lado para seguirmos um molde ao qual nos encaixamos e sofremos por causa disso. Quantas de nós não surtaram um dia porque não estavam num padrão aceitável? Queremos ser aceitas, mas será que vale morrer por isso?

Até quando seremos vitimas de um padrão que não existe? Até quando existirão padrões para determinar quem é a mulher real e quem não é?

Na mesma música, Alicia Keys também diz: “Por todas as mães que lutam, por dias melhores que virão, por todas as mulheres sentadas aqui agora, que tem que voltar para casa antes do sol se por, para todas as minhas irmãs, cantando juntas, Dizendo: Sim eu vou, Sim eu posso”. Também respondo sim. Nós vamos levantar todos os dias e lutar por um mundo onde não sejamos mais escravas, mas sim donas de nosso próprio destino.




Autora
Pamela Sobrinho é economista no Sistema S, editora na revista Betim Cultural, blogueira, mulher, feminista, sem denominações religiosas, mas amante do respeito e da igualdade. Escreve no blog: O que há por trás da Economia. Twitter: @pamsobrinho.


sábado, 21 de junho de 2014

Documentário Sobre Estética e Cabelos Afros: Espelho, Espelho Meu!

Através de depoimentos, o documentário "Espelho, espelho meu", produzido por Elton Martins, aborda apresentações afro-estéticas no período juvenil. Mães, crianças e adolescentes: todos falam um pouco de suas experiencia com os seus cabelos e sobre suas escolhas pessoais. Além disso, o vídeo conta com a participação do historiador Antonio Cosme que norteia o tema ao destrinchar o processo de construção de identidade. 
O historiador fala, também, que a realidade é quase o oposto do que deveria ser. Ele explica as expressões identitárias atuais e as define como consequência da alteridade, da relação étnica-racial brasileira. Depoimentos de adultos (homens e mulheres), adolescentes e crianças são usados no documentário como confirmações do que fala o historiador. 
O vídeo tem logo na introdução uma mulher  negra se produzindo em frente ao espelho, com música de fundo. Em seguida, Antônio Cosme abre o documentário com o primeiro depoimento. A fotografia faz jus a temática: apresenta pessoas que usam cabelo no estilo black power ou com trança enfeitadas, por exemplo, em contraponto a cultura reinante do cabelo liso. Música também são inclusas: algumas instrumentais e outras cujas letras coincidem com o assunto do documentário.  






terça-feira, 18 de março de 2014

IMPORTANTE

Olá Meninas, Mulheres da Pele Preta!
(e Meninos, Homens da Pele Preta Também rs)
Hoje venho aqui para dizer o quanto fico feliz ao perceber que aos poucos este Blog vem conseguindo alcançar seus propósitos, tornando-se um espaço de troca de experiência, informação e divulgação. É muito bom saber que este espaço tem servido de suporte para pesquisas e divulgações de projetos... Esse é o intuito desse blog. Por isso gostaria de dizer a todos que fiquem a vontade para encaminhar seus textos, poemas, projetos, ações ou qualquer outra coisa que venha contribuir para a construção da nossa identidade preta.
Pensando nisso, fico muito feliz em divulgar o Projeto de Pesquisa da Maria Rosa e o processo de audições para compor o grupo Battys Girls. 
Dêem uma lida nas postagens a baixo para maiores informações. 

Bjs

Preta.



MULHERES PRETAS, BORA AJUDAR A MARIA ROSA NO SEU PROJETO DE PESQUISA !!!

Pessoal, peço a ajuda de todos para responderem o minha pesquisa de publico alvo para meu trabalho de conclusão de curso descrito abaixo, são apenas 10 questões de marcar, é rapidinho.

Este projeto tem como tema a fotografia no Brasil e terá como recorte temático a Vida e Experiência de Um Feminino Negro.
 Esse recorte servirá para o desenvolvimento da linguagem estética  para a produção de um editorial de fotografia experimental, que terá como referencial estético o trabalho mesclado e conceitual do fotografo mineiro Eustáquio Neves. E ainda para o conteúdo textual, será narrado o depoimento real feito por uma mulher negra de nome Lila, relatado no livro “Mulher Negra, Homem Branco” da autora Gislene Aparecida dos Santos.
Este editorial tem a intenção de traduzir os sentimentos da personagem Lila, uma mulher que busca respostas em relação a sua convivência com o racismo e o por que da existência dessa exclusão social e o motivo ao qual leva os próprios negros descriminarem sua raça.
O editorial tem como objetivo mostrar como a fotografia pode ser utilizada de  maneira artística e moderna, além de mostrar para as pessoas como o afastamento social pode prejudicar uma vida, como ideais podem ser interrompidos, o preconceito e a automutilação de uma mente perdida  no meio de tantas perguntas que se foram sem respostas.


muito obrigada!
Maria Rosa Pereira


domingo, 5 de janeiro de 2014

Valente – Sobre estereótipos de gênero e violência - por Maria Rita

Durante um (longo) período da minha vida eu vivi buscando atender expectativas sociais que eu acreditava serem as minhas metas de vida. Eu estudaria, trabalharia, me casaria, teria filhos, e netos e envelheceria ao lado do meu grande amor.  Isto é que eu ouvia dizer sobre. Nunca gostei muito desta ideia, de ter algumas partes deste “sucesso” condicionadas a outras, nunca via muita lógica para a necessidade de ter um marido para ter um filho, mas ok se o “certo” era comprar o combo, eu seguiria por este caminho.
No meio da minha estrada eu me apaixonei por inúmeras pessoas, me apaixonava todos os dias, às vezes pela mesma pessoa, às vezes por pessoas diferentes, às vezes por mais de uma ao mesmo tempo, me apaixonava por sorrisos, por ideias, por cheiros, por toques, mas acima de todas as coisas me apaixonava por quem me fazia rir.
Tive relacionamentos com gente bacana, vivi um poliamor que não deu certo, provavelmente por desconhecermos o que era o poliamor (e se vocês , pessoas que eu amei demais estiverem lendo isto saibam que foi foda e especial apesar de tudo) , passei pelas mãos de gente violenta, dessas que agridem na base da porrada mesmo, que ameaçam,  que estupram. E desde o cara bacana até na relação violenta eu acreditei veementemente de que as coisas aconteciam da maneira como tinham que acontecer e que se alguma coisa deu errado, se o relacionamento nadou em lama e terminou, se eu apanhei, se as pessoas gritaram comigo, era porque obviamente a culpa era minha, eu era uma “pessoa difícil”. Ou eu havia irritado estas pessoas, ou eu era cansativa, feia demais, gorda demais, negra demais, ou eu havia provocado e na minha mente a vida era assim com todo mundo, ou com toda mulher. Na minha ideia de amor, para que tudo desse certo bastava descobrir tudo que o objeto do meu desejo gostava ou sonhava e fazer o possível para atender estas expectativas daquele ser.  E estava tudo bem porque embora esta mensagem não tenha sido passada diretamente de dentro da minha casa, isto era o que eu lia nos livros preferidos, o que eu via na Tv, via nos filmes, nas músicas mais tocadas no rádio.
Eis que um dia eu decidi ficar pra valer com alguém, finalmente um relacionamento sem gritos, sem abusos, sem estresse, e onde eu sorria absolutamente todos os dias da minha vida. Pensei agora sim, é aqui que eu quero ficar, eu estava apaixonada e feliz, mas como a vida não tem relação nenhuma com a parte feliz dos contos de fada, tanto eu quanto ele,  fomos arrastados para armadilha dos estereótipos de gênero.

“Mulheres são delicadas”

“Mulheres são o sexo frágil”

“Um  homem deve ser o provedor do lar e da família”

“Homens são fortes”

“Homens não choram”

No meu novo lar trabalhar era inconcebível, afinal na casa existia um provedor. Estudar para que? Onde eu achava que usaria o meu diploma? O que eu fazia o dia todo em casa e ainda atrasava a janta? Este era o mote das nossas conversas, claro que não era só isso, mas esta era a base daquele relacionamento e eu achava tudo àquilo absolutamente NORMAL. Era aquilo que se esperava dele, e eu precisava atingir aquilo que se esperava de mim. Eu estava ali para servir e obedecer, e havia sido tratada desta forma a vida inteira sem me atentar para a questão, sem associar meu comportamento a tudo o que haviam me ensinado na escola sobre o que era uma família, sobre qual era o lugar do negro, o lugar da mulher. E então veio o filho, veio a cobrança para que nascesse junto com o bebê uma mãe sabe tudo e que tinha que dar conta de tudo e com excelência, afinal mulheres nasceram para isso. E nesta vibe criamos um abismo entre nós, nos ferimos, nos cansamos, mas tecnicamente atingimos todos os objetivos do jogo hétero-cis-normativo. Por fim a relação acabou com uma única frase que resumia tudo o que eu tinha vivido até aquele ponto na minha vida - “Aqui dentro da minha casa você não tem direito a nada”. Com a minha falta de direitos externada ficou claro pra mim que aquilo tudo que havia sido construído não eram nem de longe as minhas metas de vida
Quanto daquilo que vivemos é fruto daquilo que a sociedade nos impõe como o certo? Penso no que me impediu por 27 anos de me rebelar contra o sistema e descobri as coisas que possivelmente eram as minhas aspirações reais. Quantas coisas os meus parceiros fizeram porque “é assim que é”, quanto foi feito “em nome da honra”, para marcar território, para impor respeito.
E o tempo passou eu tive outras tantas relações e percebi que ainda incorria nos mesmos clichês, eu os enxergava agora, mas como mudar?  E se eu mudasse como fazer o outro mudar?
Descobri que estereótipos de gênero se aplicam a todos os tipos de relações, até mesmo nas relações lésbicas, da qual posso falar com propriedade, grande parte destas relações ainda é a reprodução de uma ideia e um ideal hétero-cis-normativo que ainda inclui conceitos como a “masculina” e a “feminina” e pauta sua convivência naquilo que uma pode e a outra não, em quem regrará sua roupa, em quem lava a louça, em quem abre potes e troca pneus, quem é ativa e quem é passiva, quem pode e quem não pode chorar.
Sexismo é um termo que se refere ao conjunto de ações e ideias que privilegiam determinado gênero ou orientação sexual em detrimento de outro gênero (ou orientação sexual). Embora seja constantemente usado como sinônimo de machismo é na verdade um hiperônimo(algo que designa uma classe toda, agrupando várias sub-classes) deste, já que é possível identificar diversas posturas e ideias sexistas (muitas delas bastante disseminadas) que privilegiam um gênero em detrimento a outro. De maneira geral, o termo é usado como exclusão ou rebaixamento do gênero feminino.
Sexismo internalizado é definido como a crença involuntária por meninas e mulheres de que as mentiras, estereótipos e mitos, repetidos a exaustão em uma sociedade machista, são verdadeiras. Meninas e mulheres, meninos e homens vêem às mensagens sexistas (mentiras e estereótipos) sobre as mulheres em toda a sua vida útil. Eles ouvem que as mulheres são estúpidas, fracas, passivas, manipuladoras, sem capacidade para atividades intelectuais ou de liderança. Em contrapartida cabe ao homem ser forte, ativo, racional, líder.
Há duas conseqüências lógicas e previsíveis de uma vida inteira de tais mensagens. Primeiro, meninos / homens vão crescer a acreditando em muitas destas mensagens, e tratarão  as mulheres de acordo. Eles serão completamente doutrinados para o seu papel no sexismo, protegendo seu privilégio masculino por conspirar com a perpetuação do sexismo.
Mas há uma segunda consequência lógica – as mesmas mensagens também ficarão com as meninas e as mulheres, resultando neste sexismo  internalizado. Mulheres e meninas são ensinadas a agir conforme estas mentiras e estereótipos, duvidando de si mesmas e permitindo que este sistema sexista se perpetue.
Para que o sistema sexista seja mantido e passado para a próxima geração, todos nós devemos acreditar nas mensagens (mentiras e estereótipos) em algum grau, e conspirar com sexismo através da realização de nossos papéis atribuídos.  Para quebrar com esta base sistemática precisamos nos livrar destes estereótipos de gênero, impedir que os mesmos sejam reproduzidos e garantir assim que o suposto direito adquirido a violência e a opressão seja parcialmente anulado.
Neste final de semana a ONU lançou nos estádios de futebol a iniciativa O Valente não é Violento, que faz parte da campanha do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, UNA-SE Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, é coordenada pela ONU Mulheres e conta com o apoio da Secretaria de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República. Para marcar o lançamento da iniciativa, seis times de futebol entraram em campo, nos jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro, levando faixas com os dizeres: O Valente Não É Violento Com As Mulheres. Entre eles, Vasco e Atlético Paranaense.
Não preciso nem dizer que a mensagem não foi assimilada por completo por quem estava nas arquibancadas de Vasco X Atlético Paranaense. Por uma hora e meia homens se digladiaram brutalmente para defender sua honra, seu ponto de vista.
O  objetivo desta iniciativa é estimular a mudança de atitudes e comportamentos machistas, enfatizando a responsabilidade que os homens devem assumir na eliminação da violência contra as mulheres e meninas, e deste modo possibilitar a juventude da América Latina e do Caribe uma vida livre da violência de gênero.
imagens da campanha "O Valente não é Violento"
Violência e opressão nada tem a ver com masculinidade, virilidade, valentia ou coragem.  Ainda é preciso avançar muito neste aspecto.
Dividir as responsabilidades num lar não te torna mais fraco, intimidar uma mulher não fará com que ela o ame, bater nos seus filhos não fará com que eles o respeitem e violência psicológica fere tanto quanto um soco ou as vezes um tiro.
Que esta campanha atinja mais homens, que nossos meninos possam crescer com outros conceitos e que mais mulheres consigam brigar contra os estereótipos que trazemos sobre nossos ombros.
Hoje é 10 de dezembro de 2013, Dia Internacional dos Direitos Humanos e último dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres convocada pela ONU. Eu ainda estou no caminho , ainda vou amar muito, me apaixonar inúmeras outras vezes. Abraçada por outras mulheres em luta descobri que lugar de mulher é onde ela quiser. Aprendi recentemente que é preciso amar sem posse, aprendi (não tão recentemente) que eu sei e que eu posso trocar pneu, abrir pote, dormir com quem e quantos eu desejar, beber até cair, reformar uma casa e colocar azulejo, criar meu filho muito bem, estar sozinha, aprendi a responder na mesma altura, aprendi a me defender, aprendi que violência também se disfarça de outros nomes e precisa ser denunciada e combatida sempre e que nenhum estereótipo pode me deter pois já não sou mais regrada por eles.

* Este post faz parte da blogagem coletiva convocada pela ONU Mulheres para marcar o  Dia Internacional dos Direitos Humanos e o último dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.