Tenho lido vários textos, pelas redes sociais, falando sobre as dores e a solidão das mulheres pretas e diante de tudo que tenho passado atualmente, comecei a pensar um pouco mais sobre esse assunto. Enquanto pedagoga e educadora tenho uma grande admiração pelas ideias de Paulo Freire. No seu livro: “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire aborda a dificuldade em deixar de ser oprimido sem virar opressores ou subopressores. E levando isso para nós, pretos e pretas, tão engajados na luta diária contra o racismo, me pergunto até que ponto não contribuímos para a solidão dos nossos pares?
Todos sabem da necessidade que temos, enquanto seres humanos, em nos mantermos em grupos. A alienação provocada pelo racismo, muitas vezes nos leva a querer fazer parte de grupos que não nos representam, fazendo com que o processo de construção da nossa identidade aconteça de forma distorcida. No momento em que entendemos nossa condição de oprimidos e despertamos para nossa consciência negra, buscamos desesperadamente nossos semelhantes, irmãos e irmãs que possam nos acolher, saciar nossa sede pelo saber, descobrir nossas histórias através das historias dos nossos pares... Buscamos alicerces para a construção e afirmação de uma nova identidade. Neste momento é que nós, engajados na luta contra o racismo (cada qual a seu modo), precisamos lembrar o verdadeiro significado da palavra irmandade. Precisamos olhar nossos pares sem julgamentos ou reprovações de atitudes.
Eu, muitas vezes, julguei irmãs por achar que não estavam engajadas na luta o suficiente, pela dificuldade ou mesmo opção em manterem os cabelos alisados, por achar que não estavam se valorizando ao exporem demais seus corpos, por pensarem diferentes a mim, por viverem relações inter-raciais... E todos esses julgamentos me impediram de olhar essas mulheres pretas como irmãs, de oferecer ajudar quando elas precisaram, de me unir a elas com o que temos em comum: nossas dores e solidão... E hoje me deparo com a mesma sensação de solidão que devo ter causado a outras. Hoje sinto que por ter optado por um companheiro branco, sou olhada com reprovação pelos meus pares, como se toda a minha luta diária contra qualquer forma de opressão fosse menos significativa agora. Como se ao ter casado com um homem branco meus posicionamentos deixassem de ter o peso de antes... E diante de toda essa situação aprendi a rever a forma como eu também julguei muitas irmãs. Hoje entendo melhor o quanto ainda precisamos praticar o verdadeiro significado de irmandade, lembrando sempre o que temos de semelhantes.
(Preta_dss )