sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Educando a minha dor do não saber: A chegada da sala

Ter sua primeira sala de aula é como ter o seu primeiro filho”.
Passamos toda a faculdade planejando, nos preparando e sonhando com o momento em que teremos uma sala só nossa. È toda uma gestação.

No começo bate o desespero: “O que estou fazendo nesse curso”?, “Será que é realmente isso que eu quero? “... Tantas informações, tantas incertezas e medos com relação ao futuro. Nada parece se encaixar.

Depois de um tempo as coisas já não parecem tão assustadoras.... E já aceitamos que seremos educadoras (infelizmente nem sempre essa consciência chega rápido). E como tudo passa depressa! Quanta mudança em tão pouco tempo... Amadurecemos, enxergamos coisas, passamos a entender melhor nossas antigas professoras e a lembrar com carinho de algumas delas. Passamos a entender que a culpa pelo nosso fracasso ou sucesso escolar não dependeram só de nós, que “... escola é lugar que se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima... (Paulo Freire)”. Cresce a sede de saber, a dor do não saber-se educadora, o medo de falhar... Afinal somos marinheiras de primeira viagem. Mas agora não tem jeito, o fruto cresce dentro de nós e chegara a hora de pari-lo

O tempo parece curto para a quantidade de coisas que temos que aprender, entender, questionar, acreditar ou nos libertar... Ainda não estamos prontas, (mas será que um dia estaremos, nos sentiremos prontas?) mas não há mais tempo...È chegada a hora.

E de repente, não mais que de repente, lá estamos nós com a nossa primogênita sala nos braços. E agora? O que fazer diante de uma sala com 32 alunos/as que te observam assustados, esperando de você o que talvez não esteja preparada para dar. A primeira reação é de desespero, medo, impotência, raiva e tristeza... Um misto de sentimentos... Percebemos que toda aquela teoria, toda aquela gestação, aquele preparo, desaparece ao nosso alcance. E agora o que fazer?, Como fazer? A quem pedir ajuda? A escola volta a ser um lugar assustador... Então você lembra-se de como achava sua professora forte, impotente, superior... e agora sabe que ela já teve medo e que não sabia todas as coisas do mundo.

O desafio foi lançado e não há mais volta. È necessário encarar a realidade: Você tem uma sala, só sua e precisara ensinar e aprender ao mesmo tempo, educar sua dor do não saber. E como qualquer educadora de primeira viagem, muitos serão os tropeços, os erros e acertos, as longas horas de montagem de aula, os diversos conselhos sobre o que você deve ou não fazer com a sua sala, os diversos métodos, as diferentes didáticas e modos de ensinar...

Uma hora o pânico inicial terá passado e começaremos a nos sentir um pouco mais confiante para seguirmos nossos extintos de educadoras, a não chorar sempre que não conseguimos dar aula, a aceitar que não conseguiremos atingir todos os/as nossos/as alunos/as e que nem todos caminharão juntos, que você não poderá resolver todos os problemas das suas crianças, e que isso não te fará uma fracassada.

Mas nem tudo é desespero. Nada paga o carinho que você conquista de cada um deles/as, a briga para pegar na sua mão durante a fila, para ser seu ajudante do dia, para receber um muito bom no caderno... Os tantos e tantos chamados durante a aula “Pro, fulano fez isso”. “ Pro me ajuda?”, “ Pro sabia que eu gosto muito de você!”, “Pro, você é tão legal! Mesmo quando fica brava”. E de repente, não mais que de repente, você já nem lembra mais do seu nome, agora é simplesmente “Pro” ou, em alguns casos, “Tia”.

E essa historia não acaba aqui....


(Luciana dos Santos – Professora de primeira viagem da turminha do 3º G)