quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Obrigada por me mostrar que vale a pena!

"...Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! (Fernando Pessoa)".

Esse momento da minha vida que ando tão desanimada e descrente com as pessoas, eis que alguém lá longe me diz que preciso continuar. Hoje li uma homenagem linda feita por uma alma linda que tive o privilégio de me tornar amiga e , mais que isso, companheira de luta. Alguém que não precisou nascer com a pele escura para sentir minhas dores, enquanto mulher preta. Obrigada minha querida Pri, por essas palavras tão lindas que me fizeram chorar. Te amo toda vida!

"Nesse 20 de novembro, nem consegui escrever ... Faltou alguma coisa! Esse ano meu dia da Consciência Negra foi bem diferente, foi muito triste... Infelizmente me senti impotente, inútil ...
Me faltou a presença, a força, a energia de Vida que há tempos não vejo em mim mesma e nem nas outras pessoas! Só vejo mortas-vivas, eu quero encontrar Zumbis... Percebi que estou ficando morta, e "morna" como as que me cercam. Por isso, a única coisa que me veio à cabeça nesse dia, foi a lembrança de uma pessoa que nunca me deixou se sentir assim, e mesmo longe, quando leio suas palavras me sinto ressuscitando. Quero poder homenagear essa Mulher Preta que tanto contribuiu com minha formação, se fazendo referência pra mim e sendo tão importante na luta pelo fim do racismo e de todas as formas de opressão. Então, ai vão algumas palavras sem nenhuma pretensão de surpreender, mas apenas registrar minha gratidão!"

Negro sorriso (com covinha)

Preta é um cor de Respeito
Preta é uma Inspiração
Preta é Silêncio quase nunca, é muito mais denucia.
É luto, é solidão
Preta que está tão distante,
Preta que i-Lu-minava a escuridão
E semper mantinha Seu Coração inquieto
Preta que nunca aceita um nao
Preta que nunca se cala
Que articula, que fala,
E como fala,
Fala, Fala, Fala ...
Com Seu lindo sorriso negro (com covinha nas bochechas)
Sempre convidando a buscar a Liberdade,
Preta é a voz da verdade,
Preta seu destino é Amor
Preta, ai que saudade!

sábado, 20 de novembro de 2010

Hoje encontrei Zumbi


Hoje encontrei Zumbi na força de uma mulher preta a carregar seu filho pela rua, na sua luta em buscar do sustento da família, no seu grito de dor ao pari a vida.

Hoje encontrei Zumbi nos traços fortes de um homem preto, trabalhando ao sol, resistindo ao racismo policial e a morte em potencial.

Hoje encontrei Zumbi no sorriso de um pretinho a me fitar. Nos seus passinhos cambaleantes em minha direção, nas suas mãozinhas a me tocar. Nos cachinhos da pretinha bonita com fitas, que se orgulha de ser assim tão pretinha.

Hoje encontrei Zumbi no toque de um atabaque vibrante, na energia minada do som, vindo feito prece. No blues de um azul entristecido, na quarta feira de cinzas do fim de um carnaval.

Hoje encontrei Zumbi, nos cabelos coloridos, nas tranças desenhadas, nos Blacks desdomados. Nos andares apressados, nos sorrisos abafados, nos falares alto, nos jogos de ombros, pés e mãos, na linguagem corporal dos irmãos e irmãs.

Hoje encontrei Zumbi na fé dos que acreditam, na luta dos que gritam, na revolta dos não aceitam, na força dos que continuam a caminhar. Nos guerreiros e guerreiras sem faces, nos que morrem e nascem; nos que deram suas vidas em nome de uma causa maior.

Hoje encontrei Zumbi, andando nas ruas, ao meu lado no ônibus lotado, nos porões dos presídios, nas senzalas das favelas, nos terreiros de umbanda, nas rodas de samba, nos bancos das praças, nas escolas, na maioria dos lares.

Hoje encontrei Zumbi, ao me enxergar no espelho e perceber que ele estava em mim.

Zumbi ainda vive. Somos todos Zumbi!

(Luciana - 20/11/2010)

Meu 20 de Novembro

Fiquei pensando no que escrever sobre o 20 de Novembro. Em outros anos teria contribuído na organização de alguma semana da consciência negra, estaria fazendo oficinas ou debates em alguma comunidade, escola ou presídio.
Mas esse ano foi diferente. No começo fiquei triste em não me vê envolvida com nada. Mas como dizem os otimistas: Tudo depende do ponto de vista. Percebi que meu nada não era tão nada assim. Apesar de não estar participando ativamente de nenhum ato, acabei me envolvendo de outro jeito. Esse ano apresentei Zumbi de Palmares aos meus alunos. E como foi legal ver aqueles olhinhos atentos ao que eu falava. E a surpresa ao perceberem que o homem corajoso de que eu falava era preto.
Pode parecer algo insignificante falar sobre Zumbi a 30 crianças de 7 anos. Mas quem me dera ter tido alguém que me tivesse feito essa insignificância quando eu tinha 7 anos. Quem sabe assim não teria demorado 20 anos para me enxergar preta diante do espelho.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CONSCIÊNCIA NEGRA

"A Consciência Negra é, em essência, a percepção pelo homem negro da necessidade de juntar forças com seus irmãos em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo, a fim de se libertarem das correntes que os prendem em uma servidão perpétua. Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do “normal”, que é
ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os criou negros. Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de Deus deliberadamente criou o negro, negro. Procura infundir na comunidade negra um novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura, religião e maneira de ver a vida."

- Steve Biko

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Há racismo no Brasil? pense um pouco.
Você já sofreu por causa do racismo?
Quantos negros e negras concluíram a Universidade? Quantos(as) são diretores(as) de empresas? Quantos(as) são parlamentares?

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil) em parceria com o CANAL FUTURA apresenta um vídeo com falas de brasileiros e brasileiras sobre a condição do(a) negro(a) no Brasil. É um vídeo que trata das consequências de séculos de escravidão no Brasil. Um país que aboliu formalmente a escravidão em 1888, mas esta continua sendo marca real no país.

O vídeo postado "
Preto no Branco - NEM TUDO É O QUE PARECE (Racismo no Brasil)" pode ser utilizado em debates e em cursos onde a temática do racismo e do preconceito está presente

Preto no Branco - NEM TUDO É O QUE PARECE (Racismo no Brasil)

Preto no Branco - NEM TUDO É O QUE PARECE (Racismo no Brasil) from Universidade Livre Feminista on Vimeo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Educando a minha dor do não saber: A chegada da sala

Ter sua primeira sala de aula é como ter o seu primeiro filho”.
Passamos toda a faculdade planejando, nos preparando e sonhando com o momento em que teremos uma sala só nossa. È toda uma gestação.

No começo bate o desespero: “O que estou fazendo nesse curso”?, “Será que é realmente isso que eu quero? “... Tantas informações, tantas incertezas e medos com relação ao futuro. Nada parece se encaixar.

Depois de um tempo as coisas já não parecem tão assustadoras.... E já aceitamos que seremos educadoras (infelizmente nem sempre essa consciência chega rápido). E como tudo passa depressa! Quanta mudança em tão pouco tempo... Amadurecemos, enxergamos coisas, passamos a entender melhor nossas antigas professoras e a lembrar com carinho de algumas delas. Passamos a entender que a culpa pelo nosso fracasso ou sucesso escolar não dependeram só de nós, que “... escola é lugar que se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima... (Paulo Freire)”. Cresce a sede de saber, a dor do não saber-se educadora, o medo de falhar... Afinal somos marinheiras de primeira viagem. Mas agora não tem jeito, o fruto cresce dentro de nós e chegara a hora de pari-lo

O tempo parece curto para a quantidade de coisas que temos que aprender, entender, questionar, acreditar ou nos libertar... Ainda não estamos prontas, (mas será que um dia estaremos, nos sentiremos prontas?) mas não há mais tempo...È chegada a hora.

E de repente, não mais que de repente, lá estamos nós com a nossa primogênita sala nos braços. E agora? O que fazer diante de uma sala com 32 alunos/as que te observam assustados, esperando de você o que talvez não esteja preparada para dar. A primeira reação é de desespero, medo, impotência, raiva e tristeza... Um misto de sentimentos... Percebemos que toda aquela teoria, toda aquela gestação, aquele preparo, desaparece ao nosso alcance. E agora o que fazer?, Como fazer? A quem pedir ajuda? A escola volta a ser um lugar assustador... Então você lembra-se de como achava sua professora forte, impotente, superior... e agora sabe que ela já teve medo e que não sabia todas as coisas do mundo.

O desafio foi lançado e não há mais volta. È necessário encarar a realidade: Você tem uma sala, só sua e precisara ensinar e aprender ao mesmo tempo, educar sua dor do não saber. E como qualquer educadora de primeira viagem, muitos serão os tropeços, os erros e acertos, as longas horas de montagem de aula, os diversos conselhos sobre o que você deve ou não fazer com a sua sala, os diversos métodos, as diferentes didáticas e modos de ensinar...

Uma hora o pânico inicial terá passado e começaremos a nos sentir um pouco mais confiante para seguirmos nossos extintos de educadoras, a não chorar sempre que não conseguimos dar aula, a aceitar que não conseguiremos atingir todos os/as nossos/as alunos/as e que nem todos caminharão juntos, que você não poderá resolver todos os problemas das suas crianças, e que isso não te fará uma fracassada.

Mas nem tudo é desespero. Nada paga o carinho que você conquista de cada um deles/as, a briga para pegar na sua mão durante a fila, para ser seu ajudante do dia, para receber um muito bom no caderno... Os tantos e tantos chamados durante a aula “Pro, fulano fez isso”. “ Pro me ajuda?”, “ Pro sabia que eu gosto muito de você!”, “Pro, você é tão legal! Mesmo quando fica brava”. E de repente, não mais que de repente, você já nem lembra mais do seu nome, agora é simplesmente “Pro” ou, em alguns casos, “Tia”.

E essa historia não acaba aqui....


(Luciana dos Santos – Professora de primeira viagem da turminha do 3º G)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Quem gosta de mulher preta nessa cidade?

Realmente fico me perguntando se tem homem nessa cidade que goste de mulher preta. Me pergunto e só vejo que a pergunta faz sentido quando estou do lado das irmãs de cor. Quando diálogo sobre o assunto com as amigas brancas, em geral, a coisa fica no tom do "isso é coisa de sua cabeça". Mas não é não. E também nem tudo é da área do "quando você se sente bonita as pessoas te notam". Não é só isso, claro que isso conta. Mas nessa terra, que nem bem você passa o povo já fala alguma coisa, já mexe, é estranho você sair exuberante para uma festa e absolutamente ninguém dizer nada. Você dançar, brincar estar se sentindo bem e bonita, mas mesmo assim, ser solenemente ignorada. Sinto frequentemente isso nas badalações noturnas de Salvador, especialmente desse reduto que frequento que é o Rio Vermelho. Ando com mulheres não tão bem resolvidas assim, mas noto que como todas são brancas, a aceitação e receptividade é diferenciada. E é solenemente irritante ver que os homens negros também têm essa preferência. Sinceramente isso me dá uma certa repulsa.

Demorei muito a escrever essa chateação, até porque sempre fiquei acreditando que "isso era coisa da minha cabeça", afinal vivo na Bahia! E por aqui é terra da democracia racial. Porra nenhuma. Mas notariamente sinto que nesse mundinho dos barzinhos do Rio Vermelho, nas festinhas cabeçonas da UFBA, nos eventinhos cult da cidade, no meio teatral não há muito espaço para beleza da mulher negra. No fundo no fundo, a mulher bonita mesmo é a branca. É a deusa, a bela, a graciosa. A negra pode render uma boa trepada, mas pra mostrar pros amigos, pra receber tapinha nas costas, pra botar fotinha no álbum do Orkut, a mulher que conta e que a galera curte mesmo é a branca.

E me dá uma sensação de que os lugares pra mim são muitíssimo restritos. Que esses locais por onde ando, só são locais pra se ir, dançar tomar uma, mas esqueça essa história de flertar. Porque eu sou bonita, exótica, divertida, bom papo, tão somente.

E amiga, que ler isso, se você for branca, não opine. Não vai saber, nem ter sentido o que eu tô falando. Porque mesmo os negões de discurso engajado de Salvador, dificilmente vão preferir uma mulher negra, diante de uma branca. Só se um cometa passar por sua frente... Enfim, deixo a pergunta, tem alguém que gosta de mulher preta nessa cidade negra?

(Mônica Santana)

Retirado do blog: Eu sou Amélie Poulain -http://eusouamelie.blogspot.com/

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Fizeram a gente acreditar…

… que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos.

Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade.

Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois em um”: duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava.

Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.

Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade.

Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.

Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito paixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.

(Marta Medeiros)


PS:

PS: Esse texto foi sugestão de Marcelo Soares e foi retirado do site: Rede Relações livres (uma rede social que tem como objetivo desatar o nó da monogamia mostrando e vivenciando a multiplicidade sexual e afetiva). Vale a pena dar uma conferida nessa rede.

http://rederelacoeslivres.wordpress.com/




domingo, 29 de agosto de 2010

Trocando experiências...

Por conta desse blog estou tendo oportunidade de conhecer mulheres pretas de vários lugares. Uma oportunidade maravilhosa de troca de experiências. Varias visões a cerca de questões relacionadas à mulher preta.

Através dessas conversas tenho percebido que não importar a localização espacial, nós mulheres pretas temos muito em comum e vivenciamos no nosso dia a dia situações que acabam nos tornando tão parecidas. E em meio a varias conversas noto que as questões afetiva da maioria das mulheres pretas anda deixando a desejar. Em quase todas as conversas sobre relacionamentos a situação é sempre a mesma: Mulheres pretas, lindas, inteligentes e solteiras. Eu achei que isso fosse algo isolado ou que talvez eu fosse chata demais... RS. Mas pelo visto a coisa é mais complexa e anda se estendendo como epidemia

Bem... Tenho certeza que há varias opiniões a respeito desse assunto. Para começar vou postar um texto de uma amiga chamada mia (uma baiana arredada!) e quem quiser divulgar a opinião é só mandar o texto para o meu e-mail ou postar um comentário. Bjs a todos e todas.

Negras, lindas, inteligentes e solteiras


Nessa semana eu estava bebendo com umas amigas, em um bar, e me perguntei: “O que faziam quatro mulheres negras, lindas, sábado à noite, solteiras ?” Naquela mesa estavam pretas inteligentes, interessantes e empoderadas...... Hummmmm, acho que esse era o problema!
Os caras ficavam com medo de se aproximar, era como se nós fôssemos morder eles.... tá bom! Quem sabe em outros momentos, mas naquele não! Falamos de reuniões, lembramos de eventos, questões políticas. E homens? Nada, nada, nada e nada!
Lembro da fala de uma de minhas amigas que se referia à mulher negra, sobre o quanto se tornou exigente quando conhece um cara:
“Qual o curso que você faz?”
“Já leu Stevi Biko? Hummmm, e Milton Santos, não?”
“Você faz parte de qual instituição?”
Parece demais e é! Qualquer mulher grande (compreenda grande como símbolo da imensidão do poder feminino) quer estar acompanha por um homem grande também. A resposta para a solidão das mulheres negras é o oposto dessa busca por um ser agigantado.
A maioria dos homens ainda não lida bem com o fato de saber que sua companheira faz mestrado enquanto ele ainda está na graduação, senão com o curso de ensino médio completo, ou sua namorada vai para o exterior enquanto ele, no máximo, foi à Feira de Santana de buzão; ela se veste com tecidos africanos acompanhados de lindos colares, perfumada, com salto, trabalhada na maquiagem, e ele de blusa Mahalo, ou rapper norte-americano. Será querer demais desejar estar acompanhada por alguém à altura?
Isso desenvolve um caos a que eu chamo de Síndrome do Pronome Possessivo da Segunda Pessoa do Singular. Traduzindo... Aquele velho “A nega de Carlos”, ou “Aquela menininha que namora Pedro”... Quando o homem muda de papel e se torna o ser de alguém isso é totalmente inadmissível.A exemplo de minha mãe, sempre que meu pai estava prestes a conseguir um emprego ou promoção, ela incentivava, apoiava, mas quando ela apresentava um caminho de crescimento ele não demonstrava alegria, era aquela coisa Bacaaaaaaaaaana!
Dentro do Movimento Hip-Hop temos inúmeros exemplos de rappers que desfilam com suas namoradas, ele na frente, levando as coitadas pela mão como quem atravessa uma criança na rua, e elas atrás, geralmente magras e baixas, apagadas, invisíveis, caladas e não militantes.
Hoje eu entendo que ser mulher negra GRANDE e ainda militante feminista é saber que sexta à noite você vai sair com um bando de mulher negra na mesma condição que a sua, é passar o sábado chuvoso em casa assistindo a um filme e comendo pipoca sozinha, é querer ver um filme acompanhada e não ter quem convidar ou simplesmente passar o Dia dos Namorados como se fosse uma segunda-feira.

Para saber mais dessa preta maravilhosa visite: http://www.simplesrap.com/search/label/Papo%20Simples

terça-feira, 3 de agosto de 2010

CASAMENTO ABERTO


Andou circulando pela internet um texto creditado a Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente francês François Mitterrand. Pelo teor, acredito que seja mesmo de sua autoria. Quando permitiu que a amante e a filha que ele teve fora do casamento comparecessem aos funerais, Danielle comprou uma briga com a ala mais conservadora da sociedade francesa. Agora está se defendendo com uma reflexão que serve para todos

É sabido que a instituição casamento vem se descredibilizando com o passar do tempo. Hoje, uma relação que dura vinte anos já é candidata a entrar para o Guinness. Li outro dia uma pesquisa sobre os casais mais "divorciáveis" da atualidade. A tal Paris Hilton era a mais cotada para se separar no primeiro ano de matrimônio - erraram: nem chegou a haver casamento. E fora do mundo das celebridades não é muito diferente. Os pombinhos estão no altar, e os amigos, na igreja, já estão fazendo suas apostas para a duração do enlace. Todo mundo quer casar, adora a idéia, mas poucos ainda acreditam no felizes para sempre, e não porque sejam cínicos, mas porque conhecem bem o contrato que estão assinando: com exigência de exclusividade vitalícia, ou seja, ninguém entra, ninguém sai. Difícil achar que isso possa dar certo nos dias atuais.

O casamento vai acabar? Nunca, mas vai continuar a fazer muita gente sofrer se não entrarem cláusulas novas nesse contrato e se as cabeças não se arejarem. Danielle Mitterrand diz o seguinte: "Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma diferente." E termina citando sua conterrânea, Simone de Beauvoir: "Temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida".

Estamos falando de casamento aberto, sim, mas não desse casamento escancarado e vulgar, em que todos se expõem, se machucam e acabam ainda mais frustrados. Casamento aberto é outra coisa, e pode inclusive ser monogâmico e muito feliz. A abertura é mental, não precisa ser sexual. É entender que com possessão não se chegará muito longe. É amar o outro nas suas fragilidades e incertezas. É aceitar que uma união é para trazer alegria e cumplicidade, e não sufocamento e repressão. É ter noção de que a cada idade estamos um pouquinho transformados, com anseios e expectativas bem diferentes dos que tínhamos quando casamos, e quem nos ama de verdade vai procurar entender isso, e não lutar contra. Sendo aberto nesse sentido, o casal construirá uma relação que seja plena e feliz para eles mesmos, e não para a torcida. E o que eles sofrerem, aceitarem, negociarem ou rejeitarem terá como único intento o crescimento de ambos como seres individuais que são.

Enquanto não renovarmos nossa idéia de romantismo, continuaremos a bagunçar aquilo que foi feito apenas para dar prazer: duas pessoas vivendo juntas. Eu não conheço nada mais difícil, mas também nada mais bonito. E a beleza nunca está nas mesquinharias e infantilidades. A beleza está sempre um degrau acima.

(Martha Medeiros)


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Minha alma tem andado inquieta ...
Uma sensação que ainda não consegui definir muito bem...
Sinto uma dor azul da cor de um Blues tristemente cantado.
Uma saudade e uma vontade de ter o que ainda não vivi.
Estou sofrendo de carência de amor verdadeiro!
(Preta)

Kilombagem - CONSCIÊNCIA NEGRA

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Toda história tem dois lados... A questão é que vivemos em uma sociedade que esta dividida entre opressores e oprimidos.
Nossas vidas, nossas culturas são compostas de muitas histórias sobrepostas. A escritora Chimamanda Adichie conta a história de como ela encontrou sua autêntica voz cultural - e adverte-nos que se ouvimos somente uma única história sobre uma outra pessoa ou país, corremos o risco de gerar grandes mal-entendidos.

Ps: Para acionar a legenda do vídeo Click em view subtitles na parte inferior da tela.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Parem com estes batuques,
Bombos e caracaxás,
Parem com estes ritmos tristes e sensuais

Deixem que eu ouça
Que eu veja
Que eu sinta
O grito
A cor
E a forma
da minha libertação...

(Solano Trindade)

ENCONTREI MINHAS ORIGENS

Encontrei minhas origens
em velhos arquivos
....... livros
encontrei
em malditos objetos
troncos e grilhetas
encontrei minhas origens
no leste
no mar em imundos tumbeiros
encontrei
em doces palavras
...... cantos
em furiosos tambores
....... ritos
encontrei minhas origens
na cor de minha pele
nos lanhos de minha alma
em mim
em minha gente escura
em meus heróis altivos
encontrei
encontrei-as enfim
me encontrei

(Oliveira Silveira - Roteiro dos Tantãs)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

“ Balançando sob a luz do sol, a melancolia há de esmorecer. Balançando sob a luz do sol, as lagrimas hão de secar. Quando as mulheres negras foram trazidas à força para o litoral americano, sendo escravizadas e mais maltratadas do que gado, elas trincaram os dentes e, decididas a sobreviver em seu destino, deram a luz ao blues , à melancolia. Desde então, todas as mulheres afro-americanas têm procurado uma cadeira de balanço e a luz do sol para espantarem sua tristeza..”

(Opal Palmer Adisa)

Sou de uma família cheia de mulheres. Mãe, duas irmãs, muitas primas (de 1º e 2º grau), tias... Mulheres pretas guerreiras, das vozes rocas e altas, de risadas longas e gostosas, de muita expressão corporal.

Essa semana me veio à memória lembranças do meu tempo de menina, foi ai que parei para pensar que existe uma coisa que provavelmente faz parte da infância de toda menina preta: O ritual do trançar o cabelo. Qualquer menina preta sabe que esse momento envolve mais do que o entrelaçar de dedos sobre nossas cabeças.

Lembro-me que o momento de trançar o cabelo é a justificativa para a reunião entre mulheres... Todas na sala. Enquanto uma trançava o cabelo as outras conversavam ao redor. Era o momento de lembranças de família... Mães, tias, vizinhas, amigas... Falando de seus tempos de bailinho, suas brincadeiras e travessuras... Esse era o momento de chorar, compartilhar problemas, ajudar uma a outra. Era o momento que elas tinham para baixarem seus escudos da guerra diária, para se permitirem emocionalmente. Enquanto isso nós as filhas ficávamos correndo desesperadas para trançar o cabelo (como doía!).

Mas não tinha jeito... O dia de trançar o cabelo era inadiável e mesmo que corrêssemos, uma hora éramos pegas e pronto...Lá estávamos nós presas entre as pernas das nossas mães. E mesmo diante das reclamações sobre o estado dos nossos cabelos e de um o outro puxão, na tentativa de desembaraçar a secos os fios crespos, esse era o momento do ritual. Um momento de amor entre mãe e filha que nenhuma palavra consegue expressar. Os dedos da mãe entrelaçando-se em nossa cabeça... Mãos carregadas de ancestralidade, de amor e cuidado. Não importava a dupla (às vezes tripla) jornada de trabalho, os sofrimentos, a tristeza de uma vida dura e miserável, as feridas provocadas por sociedade racista e machista... Sempre haveria um tempo para trançar o cabelo. Recordo que algumas vezes acordava pela manha sem saber em que momento minha mãe havia trançado meu cabelo (como ela conseguia trançar meu cabelo enquanto eu estava dormindo? ).

Uma vez me perguntaram quando eu havia aprendido a fazer tranças no cabelo. Foi então que percebi que isso acontece tão naturalmente na vida de uma menina preta, que nem sabemos quando ou como aprendemos. Simplesmente trançamos e pronto! Não é algo ensinado (tecnicamente falando), mas sim vivenciado, sentido, construído... Num ritual de carinho entre mães e filhas.

(Luciana dos Santos)