domingo, 10 de julho de 2011

BALANÇANDO SOB A LUZ DO SOL: STRESS E MULHER NEGRA

Balançando sob a luz do sol, a melancolia há de esmorecer. Balançando sob a luz do sol, as lagrimas hão de secar. Quando as mulheres negras foram trazidas à força para o litoral americano, sendo escravizadas e mais maltratada do que gado, elas trincaram os dentes e, decididas a sobreviver em seu destino, deram a luz ao blues, a melancolia. Desde então, todas as mulheres afro-americanas têm procurado uma cadeira de balanço e a luz do sol para espantarem suas tristezas...

Você já se perguntou alguma vez por que tantas mulheres negras parecem sentir raiva? Ou por que caminhamos como se carregássemos tijolos nas nossas bolsas e fossemos golpear e maldizer uma amiga simplesmente por ter derrubado um chapéu? Isso acontece por que o stress é a bainha das nossas roupas, esta grudado aos nossos cabelos, impregnado em nosso perfume e pintado em nossas unhas. O stress vem de sonhos adiados, de sonhos reprimidos; vem de promessas não cumpridas, de falsas promessas; vem de sempre estarmos por baixo, de nunca sermos consideradas bonitas, de não nos valorizarem, de tirarem vantagem de nós; vem de sermos mulheres negras na America Branca. Por quanto tempo você acha que pode prender a respiração sem ser asfixiada? Sim, as mulheres negras se suicidam!

Nós nos matamos quando paramos de sorrir; quando tomamos drogas para abafar a dor de ser negra; quando, no desespero de ter “alguém”, permitimos que nosso companheiro ou companheira nos violente física e mentalmente; quando permitimos que privilégios de classe, renda, cor, aparência ou preferência sexual nos dividam; quando mês após mês choramos sozinhas sem ter com quem desabafar. Estamos estressadas. O stress conduz de tal forma as mulheres negras à loucura que nos tornamos especialistas em camuflar nossas angustias.

Nós que inventamos o blues e cantamos canções que nos aqueciam como toalhas quentes, precisamos encontrar cadeiras de balanço; e precisamos encontrá-las já! Deixe que aquela cadeira de balanço faça às vezes de um beijo de uma amiga, um abraço, um aperto de mão, um jantar improvisado, um cafezinho, um ouvido atento, um caminhar lado a lado ou um conselho não solicitado... As mulheres negras se conhecem bem; devemos ajudar umas as outras e dar continuidade ao nosso balançado.

Opal Palmer ADISA

(Escritora e autora de vários livros de contos e poesia.

Nasceu na Jamaica e atualmente vive em Oakland, Califórnia).