quarta-feira, 16 de outubro de 2013

OUTUBRO ROSA PARA TODAS, ACESSO DESIGUAL ENTRE MULHERES NEGRAS E BRANCAS AOS EXAMES DE MAMA.

Por Emanuelle Goes*

Outubro Rosa, mês de mobilização pelo acesso das mulheres aos exames de mama, que estão incluídos o clinico das mamas e a mamografia, no entanto a realização destas exames é precário para todas as mulheres no Pais, sendo que as mulheres negras do norte- nordeste são as que mais sofrem com essa impacto.
De acordo com o IBGE a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicilio - Suplemento saúde (2008) apresentou esse quadro de desigualdades. Podemos observar nas figuras abaixo como o processo das desigualdades raciais no acesso aos serviços de saúde permanece em todas as regiões do País. As figuras revelam as mulheres que nunca realizaram o exame clinico das mamas e a mamografia. E são as mulheres pretas e pardas do norte e nordeste que tem o maior percentual das que nunca realizaram tanto o clínico, quanto a mamografia.
O fato de, até o presente, não se dispor de meios de prevenção primária para o câncer implica em que as medidas de diagnóstico precoce ou da prevenção secundária assumam grande importância no controle da doença, com repercussão na diminuição das taxas de mortalidade. Tais medidas são aplicáveis nos casos das neoplasias cujos processos de desenvolvimento são devidamente conhecidos e para as quais haja disponibilidade de exames relativamente simples, de baixo custo e pouco ou nada invasivos, dentre outras características.
A alta taxa de mortalidade de mulheres por câncer da mama constitui-se em problema de saúde pública, exigindo do Estado medidas efetivas de redução dessas mortes. Nesse sentido, , em 2004, o Ministério da Saúde definiu, dentre outras estratégias, a utilização do exame clínico das mamas e da mamografia, como meios de controle do câncer das mamas.
A adoção dessas duas medidas foi pactuada entre Instituto Nacional de Câncer e a Área Técnica da Saúde da Mulher, Sociedade Brasileira de Mastologia, além de contar com a participação de pessoal de diferentes áreas do Ministério - gestores, pesquisadores e pesquisadoras e representantes de Sociedades Científicas afins e de entidades de defesa dos direitos da mulher (Brasil, 2004).
Só para recordamos, o exame clínico das mamas deve ser realizado, obrigatoriamente, todos os anos em mulheres de 40 a 49 anos, no entanto, ao realizar o exame físico, os/as profissionais de saúde, especificamente médico/a e enfermeira/o devem fazer como o cuidado integral a mulher. Já as mulheres pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver câncer de mama devem fazer exame clínico e mamografia anual a partir dos 35 anos. Para rastreamento, a recomendação é a realização de mamografia na faixa de 50 a 69 anos, com intervalo de até dois anos.
Referencias:
BRASIL, Ministério da Saúde. Controle do câncer de mama: documento de consenso. Brasília, 2004.
_____. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e diretrizes. Brasília, 2004.
*Blogueira, faz parte do Odara - Instituto da Mulher Negra, Mestra em Enfermagem/UFBA


Fonte: População Negra e Saúde E http://www.geledes.org.br/



sábado, 10 de agosto de 2013

Não Nasci Pra Ser Bonita: A Autoestima Da Mulher Negra

Thaís Vieira

Quando tinha 13 anos de idade, fui ao clínico geral para fazer uma consulta de rotina. Estava  com o uniforme da escola e tranças,-  toda feliz pois tinha aprendido a fazer tranças aquele dia - entrei na sala junto com a minha mãe (que é negra também). O médico era branco e logo quando entrei ele já me mediu da cabeça aos pés. Me examinou e tudo mais. E antes de eu sair da sala, me deu recado:
“Como você sai de casa desse jeito, com esse cabelo, com essas tranças malfeitas, não passa um batom, não usa brincos? As meninas da sua idade não são assim, elas se vestem bem, são melhores. Como quer conseguir um namorado desse jeito?”
Depois de escutar tudo isso eu não consegui falar mais nada, minha mãe concordava com tudo o que o médico dizia, o que me deixou mais triste. Quando cheguei em casa, eu chorei. No dia que estava me sentindo bonita, aquele médico tinha me arrasado com todas aquelas palavras.
Além de ele cagar regras na minha aparência, estava me comparando com as meninas da minha idade, da escola, mas essas meninas não usavam tranças, não tinham cabelo crespo, essas meninas não eram NEGRAS. Desde criança minha beleza sempre foi comparada a de uma menina branca. Na listinha das meninas mais bonitas da sala meu nome nem estava lá.  Quando as tias da escolinha penteavam meu cabelo, eu só escutava comentários como “cabelo duro”, “cabelo ruim”. Nas brincadeirinhas sempre alguém me apelidava de MACACA ou chamava meu pai de ORANGOTANGO.
E assim fui crescendo sem autoestima nenhuma. Quantas vezes minha mãe alisava o meu cabelo para ver se as coisas melhoravam? Quantas vezes me achei a menina mais  feia? E quantas vezes chorava por não ser o padrão de menina bonita que os meninos tanto desejavam, que por coincidência era branca e tinha cabelos lisos?
Agora com 16 anos percebo que aquele médico racista após me dizer tudo aquilo não entende nada de autoestima. Diante de todas as dificuldades que nós mulheres negras temos que enfrentar, nos aceitar como somos, gostar de nós mesmas é uma questão importante, isso sim é autoestima.Tenho orgulho de ser negra, ter “cabelo duro” e andar do jeito que eu quiser.
E mulheres negras: não deixem que o racismo e o machismo nos abale, somos lindas, somos negras. E 
devemos nos orgulhar disso.


domingo, 21 de julho de 2013

UMA EM CADA TRÊS MULHERES JÁ SOFREU VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNDO. DESCUBRA OS PIORES LUGARES

Mais de um terço de todas as mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual, o que representa um problema de saúde global com proporções epidêmicas, disse um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta quinta-feira (20).

A grande maioria das mulheres sofrem agressões e abusos de seus maridos ou namorados, e sofrem problemas de saúde comuns que incluem ossos quebrados, contusões, complicações na gravidez, depressão e outras doenças mentais, diz o relatório.

A pesquisa, uma coautoria de Watts e Claudia Garcia-Moreno, da OMS, concluiu ainda que 38% de todas as mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por seus parceiros, e 42% das mulheres que foram vítimas de violência física ou sexual por parte de um parceiro carregam lesões como consequência.

Saiba mais a seguir.

O relatório constatou que a violência contra as mulheres é uma das causas para uma variedade de problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde lesões imediatas, infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, à depressão e transtornos de saúde mental.

A OMS está emitindo orientações para os profissionais de saúde sobre como ajudar as mulheres que sofrem violência doméstica ou sexual. A organização salienta a importância em treinar os profissionais de saúde para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco de ser agredida pelo parceiro e saber como agir. 
Descubra quais os países onde esse tipo de agressão é mais comum.

O estudo apresenta dados separados por região. No sudeste da Ásia, por exemplo, 37,7% dos ataques são cometidos pelos próprios parceiros. Isso acontece em países como Bangladesh, Timor-Leste, Índia, Mianmar, Sri Lanka e Tailândia.

Quando se discutem ataques cometidos por homens sem nenhuma relação íntima com suas vítimas, esse número sobe para 40%.

No Egito, Irã, Iraque, Jordânia e Palestina, 37% das mulheres sofrem algum tipo de violência por parte de seus parceiros.

Em países da África, o número é um pouco mais baixo, mas ainda assim alarmante: 36% das vítimas são atacadas pelos parceiros no Congo, Uganda, Namíbia, Botsuana, Camarões, Etiópia, Quênia, Lesoto, Libéria, Malawi, Moçambique, Ruanda, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.

No caso de agressões cometidas por alguém sem nenhuma relação com a vítima, o número cresce para 45,6.


Analisando os casos cometidos por homens sem nenhuma relação íntima com a vítima e aqueles cometidos pelos parceiros contra mulheres acima de 15 anos, também chegamos a números assustadores.

Na Europa e no Pacífico Ocidental, os números caem ligeiramente, com 27% e 28%, respectivamente. Os dados incluem países como França, Finlândia, Grécia, Rússia, Austrália, China, Filipinas e Nova Zelândia.

Mesmo países desenvolvidos e considerados ricos aparecem na pesquisa, totalizando um total de 32,7% de casos.

Em um comunicado que acompanha o relatório, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse que a violência causa problemas de saúde com "proporções epidêmicas".

— Os sistemas de saúde do mundo podem e devem fazer mais pelas mulheres que sofrem violência.


FonteR7
Retirado do site:http://www.geledes.org.br 

sábado, 27 de abril de 2013

A vulnerabilidade e a força das mulheres negras


Autor(es): Eleonora Menicucci


Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres
Basta um mínimo de sensibilidade para perceber que ser mulher no Brasil exige lutar o tempo todo, desde pelo direito à vida própria (autonomia) até o direito à própria vida (no enfrentamento à violência). Se a mulher for negra, essa exigência chegará ao absurdo. Isso, apesar do espaço conquistado por meio das lutas históricas das mulheres em geral, e das negras em particular. Lutas que conseguiram se traduzir em políticas públicas; aliás, razão de ser da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM): enfrentamento à violência, acesso a trabalho e renda, à educação e saúde e de empoderamento político.
Mas como a vulnerabilidade é mais aguda para as negras? Uma leitura das estatísticas, somada à escuta de narrativas delas, abre uma fresta para o entendimento dessa realidade.
As mulheres são mais da metade da nossa população (51,5%, ou 100,5 milhões). As negras são metade das brasileiras: 50,2 milhões (Pnad/IBGE, 2011). Além do peso do estigma sexista, elas, as mulheres negras, suportam sozinhas o peso da herança escravista. E a desigualdade trazida pelo sexismo é mais desigual ainda para com as negras. Por exemplo, no trabalho. Se para as mulheres em geral, a dedicação desigual às tarefas domésticas e aos cuidados com filhos e idosos dificulta seu ingresso e ascensão no mercado, para as negras essas barreiras tornam-se verdadeiros pedágios sociais.
Esses, se conseguido o acesso, geram diferença de ganho. Se as mulheres em sua grande maioria ganham menos do que os homens, e os negros também no geral ganham menos do que os brancos, essas duas condicionantes enfeixam-se perversamente nas negras e derrubam mais ainda os seus rendimentos. Para a sociedade, consideradas as mesmas funções, é "natural" que uma negra ganhe 30% menos do que uma branca.
Acrescente-se que o mapa do país tem gradação de cor, determinada pela pobreza. Há mais negras nas regiões mais pobres: no Nordeste, 68,9% delas são negras; no Norte, 73,4%; no Centro-Oeste, 54,5%; no Sudeste, 42,1%; e no Sul, 20%.
É por tudo isso que, além das políticas públicas voltadas às mulheres, a SPM alinha todas as suas ações ao combate ao racismo. Uma dessas iniciativas terá seu ponto alto na terça-feira, quando se homenagearão as vencedoras do Prêmio Mulheres Negras Contam sua História.
O prêmio contempla relatos das negras e as tira do anonimato para assim reposicioná-las como sujeitos na construção da história do Brasil. Com isso, permite ao país conhecer (e se reconhecer num) um acervo de narrativas preciosas pelos dramas, pela coragem e pelas atitudes.
Cito três exemplos, dos 520 redações e ensaios inscritos:
— Uma menina foge da guerra em Angola, exila-se em Portugal e finalmente chega ao Brasil. Na dura vida de empregada doméstica no Paraná, sua moeda de troca com os patrões é o estudo. Ele será sua porta de saída para o escritório, isso, depois de fugir para Cuiabá. Já em Brasília, cursa jornalismo, contata a Embaixada de Angola e revê sua família. Hoje, essa angolana-brasileira é repórter da TV Angolana.
— Menina da periferia paulistana sonha com a USP — isso, antes das políticas afirmativas do governo Lula. Essa narrativa, em forma de ensaio, compara o antes e o depois dessas políticas para a população negra. No antes, as tentativas de entrar na USP, os cursinhos comunitários, a alimentação à base de pão e iogurte barato. Finalmente, enfermagem. Mas ali, de negros, só estudantes — e, mesmo assim, apenas 10%.
— O bullying marca o relato de uma pernambucana filha de famoso militante e poeta. Já no Rio, na mistura de militância e poesia do duro dia a dia, ela teve de conviver com o apelido dado a quem estudava na sua escola. Com o lanche ali resumido a mate e angu, viram-se todos e todas ainda por cima cruelmente carimbados de "mate com angu".
É essa realidade, contada pela voz forte dessas mulheres e pelos números, que cabe a todos mudarmos. O que já foi conquistado, pela sociedade e pelo governo, deve ser cada vez mais consolidado — e como marca de compromisso, para banir de vez o preconceito racial. Por fim, lembro que o enfrentamento cotidiano à violência e aos preconceitos em nosso país tem três faces inseparáveis: gênero, raça e classe social — mulheres, negras e pobres, na grande maioria. Só será possível erradicá-los por meio de uma mudança de valores e comportamentos na sociedade, para que ela se torne mais justa, baseada no respeito, na autonomia e na igualdade entre homens e mulheres.


Fonte: Clipping
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questoes-de-genero/265-generos-em-noticias/18254-a-vulnerabilidade-e-a-forca-das-mulheres-negras

sábado, 20 de abril de 2013

A Fragmentação da Mulher



por Beatriz Torres | 25/02/2013
A Autonomia da Decisão 
No último século nós mulheres conquistamos nossa liberdade, autonomia e direitos específicos. Somos belas, guerreiras, inteligentes, modernas e sentimentais. Tornamo-nos mulheres biônicas, queremos cuidar de tudo e de todos. A feminilidade ainda carrega o estigma da fragilidade, algumas querem manter isto, ou não, entretanto cada vez mais mulheres sofrem por não saber o que fazer com tudo que conquistaram. Assumimos vários papéis. Nos dividimos em filhas, mães, esposas, companheiras, profissionais e chefes de família. No momento em que é preciso escolher qual papel é o mais importante a se desempenhar, inicia-se a fragmentação da identidade, do eu, da personalidade – Porque somos “livres” ou porque somos expostas a influências externas em que os comportamentos tendem à padronização. Hoje há respostas para tudo, soluções para tudo. Se não estamos satisfeitas com o corpo, com o conhecimento adquirido, com o relacionamento afetivo, sexual ou profissional, tudo têm jeito, tudo pode ser mudado ou consumido. Cria-se uma felicidade adquirida sobre os anseios de satisfação ao modo de vida, as possibilidade de sentirmos alegria, contentamento e prazer, ainda que tais aspirações nem sempre sejam plenas por si, mas efêmeras e artificiais, já que a utopia da vida feliz não exclui os contratempos, tristezas, desventuras e desencontros.
Essa vivência do pós-moderno implica escolhas que dificilmente promovem a satisfação total, como no caso (não tão hipotético) “escolher entre ir ao cinema visitar o Lázaro Ramos e o Brad Pitt ou terminar o relatório para a reunião de segunda-feira”, o velho impasse dos “prazeres ou afazeres” – Fazer escolhas sempre nos deixa insatisfeitos de uma forma ou outra, seja pela condenação a liberdade de Sartre ou porque simplesmente nossos desejos não são compatíveis com as convenções do cotidiano.
A autonomia da decisão é o que nos permite traçar nosso próprio projeto de vida. Isto é, refletir sobre nossas experiências pessoais, nossos sonhos e anseios: Ser consciente sobre o que realmente dá sentido a nossas escolhas. Tal como o filósofo francês Robert Misrahi em seu ensaio sobre “a experiência do ser”:
“Nessa experiência, o sujeito não é mais fragmentado ou dispersado entre diversas personalidades (que opõem, por exemplo, a vida profissional e a criação, a atividade estética, a relação burocrática e a relação autenticamente pessoal). Ele se encontra, ao contrário, unificado, ao mesmo tempo em que unifica essas diversas atividades por seu propósito existencial principal.
[...] É esse prazer existencial e consciente de ser e de existir como sujeito e como vida que chamamos de alegria.”
Somos mulheres, não podemos nos deixar fragmentar diante das atribuições que assumimos. Somos inteiras, complexas, inacabadas. Temos desejos, fazemos escolhas, acertamos e erramos, e são com nossas experiências que nos tornamos únicas.


"FOLI" não há movimento sem ritmo versão original por Thomas roebers e Floris Leeuwenberg