terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quero pedir desculpas a todas e todos que seguem esse blog pela ausência. Acho que nunca passei tanto tempo se postar nada. O intuito desse blog nunca foi fazer um diário da minha vida, mas acho que devo algumas explicações. Meu ano começou cheio de mudanças.... Usando a idéia da frase de Knowlton:

” Tomei fôlego emocional, dei alguns passos a trás e lembrei e relembrei de quem é realmente responsável por minha vida...”

Novo emprego, novos desafios, novos trajetos, paisagens, janelas e olhares.... Estou tentando seguir o conselho de uma pessoa muito querida que sempre fala que eu preciso deixar de querer explicar coisas feitas para sentir.

Então foi isso! Precisei sentir essa minha nova fase para saber como encarar os novos desafios. Mas agora estou de volta, com um texto que foi escrito por sentidos.... Um grito em forma de palavras. Espero que gostem.

Bjs da Preta.

REZO TODOS OS DIAS....


Rezo todos os dias. Nunca fui religiosa, mas rogo a Deus, aos Deuses, Santos e Orixás para que me protejam. Enquanto rezo caminho a passos rápidos e desconfiados com medo do desconhecido que muitas vezes dorme ao lado. Sei que faço uma prece egoísta, pois tenho consciência de que enquanto agradeço pelo retorno para casa, livre de todos os males, outra Mulher, que também rezou por proteção não teve suas preces atendidas.

Até quando teremos que rezar para que um estranho não se veja no direito de apropria-se do nosso corpo? Até quando teremos que nos considerarmos sortudas por conseguirmos voltar para casa sem sermos violentadas, espancadas, desrespeitadas ou mortas pelo caminho? Que igualdade é essa que não nos permite decidir o que fazer com nosso corpo? Que nos condena pela forma que nos vestimos, falamos, ou agimos, muitas vezes justificando um ato de violência?

Hoje chorei ao pelas milhares de companheiras vitimas dessa sociedade machista e sexista. Chorei por todas aquelas que não conseguiram chegar a suas casas. Por todas aquelas que não se sentem seguras nos seus lares, vitimas de seus companheiros, pais, padrasto, irmãos e tantos outros opressores que ao invés de serem parceiros tornam-se inimigos.

Hoje lamentei por me sentir grata por não ter entrado para a estatística de mulheres vitimas de violência a cada minuto. Senti-me traidora por esquecer que outras não tiveram a mesma sorte. Senti-me culpada por não conseguir lutar com mais força para ajudar aquelas que perderam o poder do grito e calaram-se diante da opressão.

Hoje senti raiva por saber que também tenho medo do que possa me acontecer. Que a qualquer momento posso entrar para essa estatística. Que devo me preocupar o que estou vestindo, com o que digo, com o horário que ando pelas ruas (não importa se estou vindo da escola, do trabalho, da igreja ou de uma festa.), com o ego masculino que estou ferindo ao dizer NÃO... Tenho que me preocupar com o julgamento da sociedade que tentará me condenar pela violência sofrida. Hoje percebi que os fatores que podem me tornar mais uma na estatística não são controlados por mim.... Qualquer machista idiota se achar-se no direito de me ferir poderá fazer isso e muitas vezes terão respaldo na seguinte frase: Também.... Ela estava Pedindo!

Hoje rezei rogando a Deus, aos Deuses, aos Santos e Orixás para que eu possa viver em uma sociedade sem Opressão, para que todas nós, mulheres possamos sair pelas ruas sem medo de entrarmos para a Estatística das Mulheres vitimas de violência.

Amem!

(Preta...)