sábado, 20 de novembro de 2010

Hoje encontrei Zumbi


Hoje encontrei Zumbi na força de uma mulher preta a carregar seu filho pela rua, na sua luta em buscar do sustento da família, no seu grito de dor ao pari a vida.

Hoje encontrei Zumbi nos traços fortes de um homem preto, trabalhando ao sol, resistindo ao racismo policial e a morte em potencial.

Hoje encontrei Zumbi no sorriso de um pretinho a me fitar. Nos seus passinhos cambaleantes em minha direção, nas suas mãozinhas a me tocar. Nos cachinhos da pretinha bonita com fitas, que se orgulha de ser assim tão pretinha.

Hoje encontrei Zumbi no toque de um atabaque vibrante, na energia minada do som, vindo feito prece. No blues de um azul entristecido, na quarta feira de cinzas do fim de um carnaval.

Hoje encontrei Zumbi, nos cabelos coloridos, nas tranças desenhadas, nos Blacks desdomados. Nos andares apressados, nos sorrisos abafados, nos falares alto, nos jogos de ombros, pés e mãos, na linguagem corporal dos irmãos e irmãs.

Hoje encontrei Zumbi na fé dos que acreditam, na luta dos que gritam, na revolta dos não aceitam, na força dos que continuam a caminhar. Nos guerreiros e guerreiras sem faces, nos que morrem e nascem; nos que deram suas vidas em nome de uma causa maior.

Hoje encontrei Zumbi, andando nas ruas, ao meu lado no ônibus lotado, nos porões dos presídios, nas senzalas das favelas, nos terreiros de umbanda, nas rodas de samba, nos bancos das praças, nas escolas, na maioria dos lares.

Hoje encontrei Zumbi, ao me enxergar no espelho e perceber que ele estava em mim.

Zumbi ainda vive. Somos todos Zumbi!

(Luciana - 20/11/2010)

Meu 20 de Novembro

Fiquei pensando no que escrever sobre o 20 de Novembro. Em outros anos teria contribuído na organização de alguma semana da consciência negra, estaria fazendo oficinas ou debates em alguma comunidade, escola ou presídio.
Mas esse ano foi diferente. No começo fiquei triste em não me vê envolvida com nada. Mas como dizem os otimistas: Tudo depende do ponto de vista. Percebi que meu nada não era tão nada assim. Apesar de não estar participando ativamente de nenhum ato, acabei me envolvendo de outro jeito. Esse ano apresentei Zumbi de Palmares aos meus alunos. E como foi legal ver aqueles olhinhos atentos ao que eu falava. E a surpresa ao perceberem que o homem corajoso de que eu falava era preto.
Pode parecer algo insignificante falar sobre Zumbi a 30 crianças de 7 anos. Mas quem me dera ter tido alguém que me tivesse feito essa insignificância quando eu tinha 7 anos. Quem sabe assim não teria demorado 20 anos para me enxergar preta diante do espelho.