sábado, 20 de abril de 2013

A Fragmentação da Mulher



por Beatriz Torres | 25/02/2013
A Autonomia da Decisão 
No último século nós mulheres conquistamos nossa liberdade, autonomia e direitos específicos. Somos belas, guerreiras, inteligentes, modernas e sentimentais. Tornamo-nos mulheres biônicas, queremos cuidar de tudo e de todos. A feminilidade ainda carrega o estigma da fragilidade, algumas querem manter isto, ou não, entretanto cada vez mais mulheres sofrem por não saber o que fazer com tudo que conquistaram. Assumimos vários papéis. Nos dividimos em filhas, mães, esposas, companheiras, profissionais e chefes de família. No momento em que é preciso escolher qual papel é o mais importante a se desempenhar, inicia-se a fragmentação da identidade, do eu, da personalidade – Porque somos “livres” ou porque somos expostas a influências externas em que os comportamentos tendem à padronização. Hoje há respostas para tudo, soluções para tudo. Se não estamos satisfeitas com o corpo, com o conhecimento adquirido, com o relacionamento afetivo, sexual ou profissional, tudo têm jeito, tudo pode ser mudado ou consumido. Cria-se uma felicidade adquirida sobre os anseios de satisfação ao modo de vida, as possibilidade de sentirmos alegria, contentamento e prazer, ainda que tais aspirações nem sempre sejam plenas por si, mas efêmeras e artificiais, já que a utopia da vida feliz não exclui os contratempos, tristezas, desventuras e desencontros.
Essa vivência do pós-moderno implica escolhas que dificilmente promovem a satisfação total, como no caso (não tão hipotético) “escolher entre ir ao cinema visitar o Lázaro Ramos e o Brad Pitt ou terminar o relatório para a reunião de segunda-feira”, o velho impasse dos “prazeres ou afazeres” – Fazer escolhas sempre nos deixa insatisfeitos de uma forma ou outra, seja pela condenação a liberdade de Sartre ou porque simplesmente nossos desejos não são compatíveis com as convenções do cotidiano.
A autonomia da decisão é o que nos permite traçar nosso próprio projeto de vida. Isto é, refletir sobre nossas experiências pessoais, nossos sonhos e anseios: Ser consciente sobre o que realmente dá sentido a nossas escolhas. Tal como o filósofo francês Robert Misrahi em seu ensaio sobre “a experiência do ser”:
“Nessa experiência, o sujeito não é mais fragmentado ou dispersado entre diversas personalidades (que opõem, por exemplo, a vida profissional e a criação, a atividade estética, a relação burocrática e a relação autenticamente pessoal). Ele se encontra, ao contrário, unificado, ao mesmo tempo em que unifica essas diversas atividades por seu propósito existencial principal.
[...] É esse prazer existencial e consciente de ser e de existir como sujeito e como vida que chamamos de alegria.”
Somos mulheres, não podemos nos deixar fragmentar diante das atribuições que assumimos. Somos inteiras, complexas, inacabadas. Temos desejos, fazemos escolhas, acertamos e erramos, e são com nossas experiências que nos tornamos únicas.


"FOLI" não há movimento sem ritmo versão original por Thomas roebers e Floris Leeuwenberg